A Observação sem Julgamentos e Interpretações nas Abordagens Terapêuticas Humanistas: Um Encontro com o Ser
- rosangelaferreirap3
- 6 de ago.
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Por Rosânggela Ferreira
Nas abordagens terapêuticas de base humanista, como a Abordagem Centrada na Pessoa de Carl Rogers, a Gestalt-terapia de Fritz Perls e a Análise Existencial de Viktor Frankl, a escuta e a observação sem julgamentos constituem pilares fundamentais da relação terapêutica. Mais do que técnicas, essas posturas revelam uma ética de encontro e uma filosofia de cuidado centrada na confiança no potencial humano de autorregulação e crescimento.
Observar sem julgar é permitir que o outro se revele em sua inteireza, sem ser reduzido a categorias, diagnósticos ou interpretações precipitadas. Trata-se de sustentar uma presença que acolhe o outro como legítimo em sua forma de ser, mesmo quando há dor, contradição ou fragmentação. Neste campo, o terapeuta não se posiciona como um decifrador da experiência alheia, mas como um facilitador do processo de autocompreensão, alguém que caminha ao lado e não à frente.
Essa atitude requer não apenas escuta ativa, mas um despojamento interno: o terapeuta precisa suspender seus próprios filtros, crenças e necessidades de controle, cultivando o que Rogers chamou de “consideração positiva incondicional”. Essa qualidade de presença cria um espaço seguro onde o cliente pode se expressar sem medo de ser avaliado, corrigido ou interpretado de maneira invasiva.
Na Gestalt-terapia, a observação fenomenológica também é central. O terapeuta é convidado a descrever o que vê, ouve e sente, sem inferências ou rótulos, permitindo que o fenômeno se manifeste em sua singularidade. Ao invés de perguntar “por que você sente isso?”, pergunta-se “como você vive isso agora?”. Esse deslocamento da causalidade para a vivência do momento presente favorece a ampliação da consciência e a reintegração de aspectos dissociados do self.
Essa prática também dialoga com a fenomenologia existencial e a noção de “epoché” – a suspensão de julgamentos – proposta por Husserl. O terapeuta aprende a suspender interpretações automáticas para se abrir ao que se apresenta, como se fosse pela primeira vez. Esse olhar desarmado permite que a experiência do cliente emerja em sua complexidade e potência transformadora.
Em um mundo que nos pressiona a rotular, diagnosticar e responder com rapidez, a atitude terapêutica humanista propõe um desacelerar. Ela convida à escuta do silêncio, dos gestos, das entrelinhas, daquilo que ainda não encontrou palavras. E, sobretudo, propõe o respeito incondicional ao tempo interno de cada ser humano.
Assim, observar sem julgar é um gesto de amor clínico. É confiar que, quando acolhido sem máscaras, o ser humano reencontra seu próprio eixo e, a partir dele, pode fazer escolhas mais autênticas e conscientes. Esse é o solo fértil sobre o qual a transformação acontece – não pela força da interpretação do outro, mas pela coragem de olhar para si mesmo com verdade e compaixão.

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