A Teoria Polivagal e o cuidado com o sofrimento emocional

Por Rosângela Ferreira

No silêncio da escuta terapêutica, percebo como os corpos falam antes das palavras. Às vezes, a dor não grita — ela se cala, se retrai, congela. Outras vezes, vem em forma de ansiedade, coração acelerado, dificuldade de respirar ou até de se relacionar. Mas o que acontece por trás dessas respostas tão humanas?

A Teoria Polivagal, do neurocientista Stephen Porges, nos ajuda a compreender essas reações profundas que o corpo ativa diante da vida. Ela nos mostra que o sistema nervoso não apenas reage, ele escuta o ambiente o tempo todo — e responde com base na sensação de segurança ou ameaça.

Na prática clínica, vejo isso com frequência:

• Quando há segurança emocional, o corpo relaxa, a voz se acalma, os olhos encontram os olhos. Esse é o estado em que o nervo vago ventral atua — facilitando conexão, afeto e presença.

• Quando o perigo é percebido, mesmo que inconscientemente, o sistema nervoso aciona o modo luta ou fuga. É o corpo tentando sobreviver, entra em estágio hiperalerta.

• E quando o trauma é antigo ou intenso, pode surgir o colapso, o congelamento, o afastamento da vida. Esse é o nervo vago dorsal se manifestando.

A beleza da teoria polivagal está em nos lembrar que não há erro nessas respostas. São estratégias de proteção. Nosso corpo nos defende como pode, até que encontre um espaço seguro para relaxar.

E esse espaço pode ser construído no processo terapêutico. Com acolhimento, presença e ritmo, criamos juntos um campo de confiança. Não apressamos o tempo do corpo. Escutamos o que ele tem a dizer. Aos poucos, o sistema se reorganiza. A vida volta a circular.

Quando o corpo sente que é seguro sentir, ele começa a curar.