Os desafios da psicanálise contemporânea
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- 7 de out.
- 2 min de leitura
Por Rosânggela Fêrreira
Cada tempo da história traz consigo modos próprios de viver, sofrer e se relacionar. E se a psicanálise nasceu ouvindo as dores das histéricas da Viena de Freud, hoje ela encontra novas formas de sofrimento que não cabem mais nos moldes antigos.
Vivemos em uma sociedade acelerada, onde tudo precisa ser rápido, produtivo e visível. Nesse ritmo, o sujeito se perde: ansioso, fragmentado, sobrecarregado de exigências externas e internas. A clínica analítica torna-se, então, um lugar quase subversivo: um espaço de pausa, de silêncio e de escuta, algo raro em tempos de correria e excesso de estímulos.
Os desafios atuais da prática psicanalítica estão justamente aí:
Novos sintomas, novos modos de sofrer: já não se fala apenas em neuroses ou histerias. Hoje surgem ansiedades difusas, compulsões, depressões, crises de identidade e vínculos frágeis. São modos de o sujeito responder ao mundo em que vive.
Pluralidade das identidades: gênero, sexualidade, pertencimento, temas que atravessam a vida de muitos pacientes. A escuta psicanalítica, quando viva e atualizada, não julga nem enquadra, mas acompanha cada um em sua singularidade.
Um tempo que pede diálogo: a nova psicanálise não se fecha em si mesma. Ela se abre ao diálogo com a filosofia, a arte, a espiritualidade, a neurociência. Não para perder sua essência, mas para enriquecer sua capacidade de compreender a complexidade do humano.
O lugar do analista em meio às crises: desigualdades sociais, guerras, crises ambientais e a experiência recente da pandemia atravessam as histórias individuais. O analista não é alguém que traz respostas prontas, mas alguém que sustenta uma presença capaz de ajudar o sujeito a simbolizar o que muitas vezes parece insuportável.
No fundo, a psicanálise contemporânea não abandona sua origem: a confiança na palavra e na potência do inconsciente. Mas reconhece que cada época pede uma nova escuta, novos manejos e uma presença mais conectada com as urgências do presente.
O maior desafio, talvez, seja este: não deixar que a psicanálise se cristalize em teoria fechada, mas mantê-la viva como um espaço de encontro, de travessia e de reinvenção de si.

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