Sentir, logo existo: o que a neurociência de António Damásio nos ensina sobre saúde mental e sentido da vida
- rosangelaferreirap3
- 6 de ago.
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Por Rosânggela Fêrreira
Vivemos tempos em que a saúde mental se tornou um tema urgente. Ansiedade, depressão, crises de identidade e esgotamento emocional são experiências cada vez mais comuns. Mas será que estamos olhando para o que realmente importa? O neurocientista português António Damásio nos convida a repensar a forma como compreendemos o sofrimento psíquico, não apenas como um desequilíbrio químico no cérebro, mas como um grito do corpo e da alma por reconexão.
Damásio é conhecido por afirmar que não somos seres racionais que sentem, mas seres emocionais que pensam. Essa inversão aparentemente simples muda tudo. Ele mostra, por meio de décadas de pesquisa, que as emoções e os sentimentos não são inimigos da razão, como fomos ensinados a acreditar. Pelo contrário, são eles que nos orientam nas decisões mais importantes da vida. Pessoas que perderam a capacidade de sentir, por lesões cerebrais específicas , também perderam a capacidade de escolher, de agir com propósito.
A partir disso, Damásio propõe que a saúde mental não pode ser compreendida sem o corpo. O cérebro sozinho não dá conta da vida. Nossos pensamentos, lembranças, traumas e desejos são moldados pela maneira como sentimos o mundo — por dentro e por fora. O corpo é o palco das emoções, e os sentimentos são como bússolas internas que nos ajudam a navegar pela existência.
Para ele, a consciência é um processo que nasce do encontro entre o cérebro, o corpo e o ambiente. Não é algo fixo, nem uma entidade separada. É um movimento vivo, uma construção contínua que envolve memórias, percepções e valores. Nesse sentido, cuidar da saúde mental exige mais do que tratar sintomas: exige ouvir o corpo, compreender os afetos e resgatar o vínculo com aquilo que nos dá sentido.
Em sua obra A Estranha Ordem das Coisas, Damásio vai ainda mais longe: afirma que o que move a história da humanidade — a cultura, a arte, a ciência e até a moral — nasce da nossa biologia mais profunda, da busca pelo equilíbrio interno (o que ele chama de homeostase). Ou seja, nossas maiores realizações começam com a necessidade de nos sentir bem, vivos, conectados e em paz.
Essa visão nos ajuda a entender que o sofrimento psíquico não é um erro. Ele é um sinal. Um convite. Um pedido por escuta, cuidado e sentido. Não basta silenciar o sintoma — é preciso perguntar: O que esse desconforto está tentando me dizer? Onde estou desconectado de mim, dos outros, da vida?
Ao unir neurociência, corpo e emoção, Damásio nos oferece uma chave poderosa para uma saúde mental mais humana: Sentir é saber. Sentir é existir. E só existe cura quando voltamos a habitar nossa própria presença com verdade e compaixão.

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